Treinamento de força e ciclismo
Apesar de muitas pessoas já entenderem o benefício de praticar em conjunto com a sua modalidade esportiva o treinamento de força, muitos ainda seguem acreditando que essa combinação esporte/exercícios com pesos não funciona, ou até sabe que pode ajudar, mas não sabe como, nem em que momento introduzir outro tipo de treinamento a um atleta.
No ciclismo, mesmo com tantos estudos, muitos ainda acreditam que se trata somente de um esporte de resistência e não de força. Mas no caso de modalidades como ciclismo de estrada, mountain bike e ciclismo de pista, isto é um grande equívoco. Como nessas competições o vencedor não é somente quem aguenta pedalar por mais tempo ou maiores distâncias e sim quem cruza uma linha de chegada antes dos outros, essas modalidades exigem além de resistência muita força e potência dos atletas.
Isso por si só já nos dá a ideia de que o treinamento de força e potência ajudará a trazer uma melhora na performance de atletas destas modalidades. A partir disso vamos discutir como o treinamento de força pode ajudar a aumentar a performance destes atletas.
Como é notório, o treinamento de endurance reduz a contratilidade das fibras musculares, já o treinamento de força aumenta esta contratilidade e aliando isso ao fato de que o treinamento de força melhora o poder de recrutamento muscular ocasionando que necessite de menos fibras para realizar um mesmo esforço, se mostra uma ótima abordagem utilizarmos um treinamento de força como a musculação em atletas de ciclismo.
Melhorar a eficiência muscular no ciclismo é melhorar a performance, quanto maior o nível da competição, maior o nível dos atletas e maior também é a equivalência de forças entre eles, o que faz com que qualquer pequena melhora na eficiência muscular e energética amplie muito a chance de vitória.
Quando pensamos nessa mistura de modalidades para aumentar a performance de atletas imaginamos que iniciou a pouco tempo este pensamento, mas nos enganamos, pois já em 1988, hickson et al. (1998) realizou testes com atletas treinados que estavam com uma performance estagnada e com o treinamento de força incluído em seu treinamento aeróbio conseguiu um acréscimo de 20% no teste de ciclismo. Mas se engana quem imagina que o que ocorreu foi um aumento do VO2max, o que gerou essa melhora no rendimento foi uma maior economia de energia.
Segundo estudos de Coyle et al., (1988) mesmo ciclistas com VO2máx parecidos, têm performances diferentes, sendo que atletas que incluem o treinamento de força ao seu treinamento obtém melhores performances e uma das explicações para isso é uma maior capilarização muscular, o que leva a melhor eficiência neuromuscular, que faz com que o ciclista consiga ter uma potência muscular mais alta com menos fadiga.
Hawley & Noakes, (1992) mostraram em seu estudo que o aumento do pico de potência de um ciclista tem relação com o aumento da performance em testes de 20km.
Millet et al., (2002) introduziu 14 semanas de treino de força com 3 a 5 RM no agachamento e percebeu que os atletas tiveram melhora da velocidade máxima com o qual se chegava na intensidade de VO2máx e novamente encontraram uma grande melhora na economia de energia do movimento e tudo isso sem que o VO2máx se alterasse.
Uma outra explicação para o aumento da economia de energia com atletas que incluem treinamento de força em seus treinos é que o treinamento de força gera um aumento na taxa de desenvolvimento de força, o que quer dizer que o atleta gera uma força maior no pedal e de forma mais rápida.
Estudos também indicam que o treinamento de força traz uma melhora para tendões e articulações fazendo com que o atleta se lesione menos.
E como vamos fazer com que esses atletas que chegam a treinar 7 dias por semana ainda incluam o treinamento de força no seu planejamento? Bastiaans et al., (2001) sugere que retirando 30% do treinamento de ciclismo e substituindo esses 30% com treinamento de força pode se alcançar uma melhora na performance em testes de 1 hora. Já Roonestad et al., (2017) retirou 1 hora e meia de treino de ciclismo semanal dos atletas e substituiu por treinos com altas cargas e pouquíssimas repetições com um intervalo de no mínimo 2 minutos entre as séries. Com isso conseguiu um acréscimo de força e potência.
Paton & Hopkins, (2005) inseriram treinamento de força e velocidade em ciclistas treinados e conseguiram um aumento de 8,7 e 8,4% em testes de 1 e 4 km respectivamente, além de aumento de 6,7% na potência máxima e melhora na economia do movimento.
Mas aí vem um questionamento. Se trabalharmos com a musculação com cargas mais leves e mais repetições, conseguiremos esse aumento da performance?
Se observarmos o estudo de Stanton et al., (2019) parece que não. Em seu estudo com 45 ciclistas onde foi substituído 50% do treino de ciclismo e incluído no seu lugar treino de força com no mínimo 10 repetições e 50 a 60% de 1RM os atletas não obtiveram aumento de força nem de potência, mas em contrapartida obtiveram um aumento na massa muscular o que muitos podem achar que seja uma coisa boa mas se for um aumento demasiado alto acarreta em maior peso corporal, que é algo que um atleta de ciclismo não quer, principalmente se espera subir mais rápido, pois esse aumento de peso sem aumento de potência resulta em uma queda em sua potência por kg corporal.
Então com isso podemos perceber que treinamento de força e potência podem sim ajudar atletas de ciclismo a alcançarem melhores resultados, desde que o treinamento de força seja executado de maneira correta, com os treinos de força com poucas repetições e maior carga.
Guilherme Müller
CREF: 027189-G/SC