Fáscia e a capacidade de comunicação interna no corpo humano
Que o tecido fascial conecta todo o corpo como uma grande rede certamente você já entendeu ou pelo menos já teve acesso à alguma informação a este respeito.
Mas na verdade a fáscia vai muito além de apenas um tecido colagenoso fibroso formando uma rede que liga, separa, envolve órgãos e músculos.
Você já parou para pensar que é o tecido fascial que mantém nossas células unidas e ordenadas?
Devemos entender que o tecido fascial forma um continuum por todo o organismo, penetrando até os pontos mais internos deste, circundando células, tecidos, órgãos. Envolvendo músculos, tendões e ligamentos. Sustentando órgãos internos. Envolvendo todo nosso cérebro e medula. Enfim, está verdadeiramente em toda parte de nosso corpo humano.
Matriz Extra Celular – MEC
Entre as células do tecido conjuntivo, no espaço extracelular, existem muitas substâncias como vários tipos de colágeno, elastina, fibras de reticulina, proteínas interfiblilares gelatinosas (glicosaminoglicanos e proteoglicanos). Esta soma de substâncias dentro do tecido colagenoso chama-se MEC ou matriz extra celular.
A MEC é um sistema de fibrilas de proteínas insolúveis e complexos solúveis compostos de polímeros de carboidratos ligados às moléculas que se ligam à água.
A MEC distribui tensões de movimentos e da gravidade ao mesmo tempo que mantém a forma dos diferentes componentes do corpo.
Constituem também um ambiente físico-químico para as células formando uma estrutura à qual elas aderem e se movem. Além disso é também um meio poroso, ricamente hidratado, iônico, onde os metabólitos e nutrientes podem se difundir livremente.
O Dr. James Oschman refere-se à MEC como a Matriz viva. Segundo ele quando se toca um corpo, estamos tocando um sistema infinitamente ligado que une praticamente todas as células do corpo.
Interessante lembrar aqui que este conceito já os antigos indianos e chineses nos traziam, ao afirmarem que uma massagem era um toque em todas as células do corpo e que o toque poderia tratar e curar todas as células, das mais externas às mais profundas.
Os estudos de profissionais como Oschman tem nos trazidos grandes revelações neste campo.
Mas o que quero discutir aqui neste pequeno bate papo de hoje é sobre o papel da fáscia na transmissão e recebimento de informações, influenciando a função do corpo inteiro. Nosso organismo é regido por este fluxo ininterrupto de informações através de nosso complexo sistema nervoso central e periférico e quando este sistema sofre algum problema nosso organismo de desestabiliza e surgem vários problemas e patologias.
Aí é que chegamos a uma outra função importantíssima da fáscia, que é a comunicação intercelular, uma vez que a MEC se encontra repleta de uma rede de cristais líquidos de colágeno úmido e outras proteínas, através da tensão sofrida, a MEC distribui sinais bioelétricos com uma precisão absurda por todo o corpo. Isso se faz com muito maior velocidade do que a transmissão via nervos.
Poderíamos assim falar em três redes holísticas interligadas, como nos diz Thomas Myers:
A rede neural (neurônios), a rede líquida (capilares), e a rede fibrosa (fibrila de colágeno).
Todas elas transmitem informações e através do conceito de tensegridade, que já descrevemos em outro texto e do conceito de Mecanotransdução que nos diz que “toda interferência mecânica altera o estado morfológico e de desenvolvimento dos tecidos”, compreendemos que estímulos diretos na membrana celular resultará em respostas eletro bioquímicas.
É muito grande a circulação de fluidos dentro das fáscias, que através de um sistema chamado circulação lacunar, nutre todos os tecidos, funcionando como um sistema de embebimento dos tecidos. Através do movimento, das trações, dos deslizamentos, das tensões, estes fluidos se deslocam e se difundem de um tecido a outro.
Falta de movimento deixa estagnado este sistema
O tecido mais importante da circulação lacunar é o tecido
conjuntivo, representando cerca de 70% do conjunto dos nossos tecidos.
Vamos aprofundar mais estes conceitos em artigos futuros, mas o que queremos deixar como pensamento e questionamento hoje a todos é:
Quando você toca um corpo, como terapeuta manual, você já parou para pensar a profundidade de alcance deste toque mesmo sem a necessidade de excesso de pressão neste corpo?
Você já pensou em quantas reações bioelétricas estão sendo geradas neste corpo através de seu toque?
Você já se deu conta de que estudos recentes nos mostram que quando um terapeuta toca um corpo a energia deste terapeuta também interage com a do paciente?
Muitos questionamentos vão surgindo à medida que os estudos sobre a fáscia avançam, e isso, brincando com as palavras, é simplesmente fascinante.
Muito já se descobriu, mas muito ainda estamos descobrindo e é maravilhoso vermos como a ciência atual, cheia de equipamentos modernos e pesquisas, nos mostra cada vez mais que muito do que nos diziam os sábios chineses e indianos há milênios cada vez mais se confirmam como verdades.
Como a comunicação via fluidos do corpo, pelos vasos sanguíneos, linfáticos, e pelos ductos de Bonghan, que tem tudo a ver como chamados meridianos da acupuntura chinesa.
Mas isso é tema pra outro texto.
Continuem com seus toques curadores, com seus toques regeneradores, mas acima de tudo, toquem cada vez mais de forma outro corpo de forma consciente, com sua energia voltada ao toque.
Sinta, escute, converse com este outro corpo.
Bom trabalho a todos.
Rogério Luis Müller
CREF 000805-G/SC